Sumiu por mais de um século e reapareceu onde quase ninguém olha: nas encostas frias da Sierra Madre del Sur, em Guerrero. O Sylvilagus insonus, dado como perdido desde 1904, foi confirmado por uma força-tarefa que juntou câmeras-trampa — instaladas para onças-pintadas — e informação de comunidades locais. Cinco anos de varredura em 10 áreas renderam evidência em 7 delas. O “cotton-tail” que não é cotton: cauda curta e preta, orelhas menores, corpo mais miúdo. Quer prova melhor? Mongabay
A cena que virou a mesa aconteceu em maio de 2024, perto de Jaleaca de Catalán: um juvenil cruzou a frente da lente e expôs a diferença de tamanho em relação aos coelhos comuns da região. A partir dali, a equipe liderada por José Alberto Almazán-Catalán (INMACOB) reabriu 11 anos de arquivos e encontrou registros esquecidos. Resultado: a distribuição conhecida avançou 111 km além do mapa anterior. Quantas aparições mais estavam escondidas no backup? Rewild
O que foi redescoberto, afinal? Um coelho endêmico de florestas de coníferas de altitude, restrito a Guerrero, com hábitos majoritariamente noturnos — cerca de 68% das detecções à noite. A distinção prática em campo é simples quando a imagem ajuda: cauda preta, orelhas curtas, porte menor que o do coelho-mexicano (S. cunicularius). Quando a foto sai borrada (o normal em câmera-trampa), vale o conjunto: proporções, padrão de pelagem e contexto de altitude. Mongabay
Por que ficou “sumido” por 120 anos? Logística e gente. Terreno duro, densidade baixa, atividade noturna e caça de subsistência abriram um vácuo de dados que a ciência demorou para preencher. Some a isso o foco histórico em espécies “carismáticas” e você entende o buraco. Dá para culpar as montanhas? Em parte. O resto é prioridade de pesquisa. Mongabay
O que, afinal, foi redescoberto?
Como a volta foi cravada: o CENJAGUAR espalhou câmeras para o censo nacional de onças. A “fauna associada” veio no pacote. Surgiram imagens de um coelho que não batia com os vizinhos. A confirmação cruzou fotos recentes com peles antigas e descrições originais de 1904. Em seguida, a reanálise de acervos e novas idas a campo fecharam lacunas, reforçando ocorrência em 7 de 10 áreas e sugerindo reprodução duas vezes ao ano (filhotes em maio e dezembro) e comportamento mais solitário. Coincidência? Pouco provável — os padrões começam a se repetir. Mongabay
Como a ciência cravou a volta
E a conservação — pra ontem. A Reserva da Biosfera Sierra Tecuani cobre o alcance atual, mas não há medidas específicas para a espécie e a perda florestal segue ativa dentro da reserva. Tradução: sem monitoramento contínuo, meta de habitat e acordo local contra a caça, a manchete vira fumaça. Comunidades ouvidas apontaram disposição em proteger o animal se entenderem o porquê — ignorar isso é pedir para colecionar PDF que ninguém lê. Mongabay
Onde isso se encaixa no quadro maior: o caso entra no programa Search for Lost Species, da Re:wild. O Omiltemi é a 13ª espécie “recuperada” desde 2017, ao lado do equidna de Attenborough e do chamado “berbicacho prateado”. A lição é direta: método funciona quando junta campo, tecnologia e conhecimento local. Quantas espécies “perdidas” estão a um HD de distância? Mongabay
Por que isso importa — e já
Se você comunica ciência ou toca marcas com pauta ambiental, use. Publique uma nota objetiva com três pontos: onde vive (Guerrero), como foi detectado (câmeras-trampa + comunidade) e o que falta (medidas específicas e monitoramento). Aponte para iniciativas locais na Sierra Madre del Sur. Simples, útil, compartilhável. E sem floreio: o Omiltemi está vivo, restrito a Guerrero, aparece em 7 de 10 áreas amostradas, é majoritariamente noturno e ainda carece de proteção específica — mesmo dentro de uma reserva. Dados certos + gente certa mexem a agulha. Mongabay